Donald Richard DeLillo nasceu a 20 de novembro de 1936. É um romancista, argumentista e ensaísta americano. DeLillo cresceu no Bronx em Nova Iorque, no seio de uma família católica italiana da classe trabalhadora. Nos seus trabalhos encontramos uma diversidade enorme de temas atuais e mediáticos como a guerra nuclear, o desporto, o advento da era digital, a complexidade da linguagem, o terrorismo global, a política, economia, matemática e as mais diversas artes. DeLillo considera que o cinema teve uma influência decisiva no seu trabalho e realça Bergman, Antonioni e Godard como inspirações. Estudou Arte e Comunicação concluindo os estudos em 1958 na Fordham University, no Bronx. Trabalhou em publicidade como copywriter até 1964. Nesta altura ainda não sabia que seria um grande escritor. Foi só na década de 1970 que DeLillo se tornou um autor. Nesta década escreveu e publicou seis livros. DeLillo escreveu mais de quinze romances mas foi com Submundo que se tornou um escritor consagrado. DeLillo concentra a sua obra na frase: “viver em tempos perigosos” e considera ser responsabilidade dos escritores oporem-se ao sistema, isto é, segundo o autor “é importante escrever contra o poder vigente, contra as Corporações, contra o Estado, e contra todo o sistema de consumo e o debilitante entretenimento. Os escritores devem escrever contra tudo o que o poder tente impor aos homens.” Em 1998 DeLillo foi finalista do Pulitzer Prize for Fiction com Submundo.
“A história faz-se de anseios em grande escala. Trata-se de um mero garoto com um desejo bem restrito, mas faz parte de uma multidão que não cessa de engrossar, milhares de indivíduos anónimos que emergem dos autocarros e dos comboios, pessoas em colunas estreitas que calcorreiam a ponte giratória sobre o rio e, embora não formem uma migração nem uma revolução, um vasto abalo da alma coletiva, trazem consigo o calor do corpo de uma grande cidade e os seus próprios devaneios e desesperos insignificantes, essa coisa invisível que assombra o dia – homens de chapéus de feltro e marujos de licança, o tropel caótico dos seus pensamentos, a caminho de uma partida de basebol.”
Este é um dos primeiros parágrafos de Submundo e, de certa forma, é a melhor síntese com menos de dez linhas que vos poderia apresentar. Submundo começa a 3 de outubro de 1951, e tem como pano de fundo um dos mais famosos jogos de basebol de todos os tempos, os Brooklyn Dodgers contra os New York Giants, no qual Bobby Thomson “bateu a bola para o primeiro anel das bancadas junto à faixa esquerda do campo”. A par deste momento mítico no desporto americano, do outro lado do mundo, acontece a primeira detonação atómica feita pela União Soviética. Estes dois acontecimentos marcam a narrativa de todo o romance como o substrato de uma era onde a guerra fria dominou o subconsciente americano.
Submundo não é um livro que respeita uma cronologia fixa, o que faz com que aborde vários momentos-chave da recente história americana como a guerra do Vietnam ou a crise dos mísseis cubanos. A devastação do planeta pelo lixo que os humanos produzem é outro dos temas centrais mas, acima de tudo, Sumundo é a vida do protagonista, Nick Shay, envolta numa série de contextos que constroem uma personagem extremamente real e humana. Figuras históricas como Lenny Bruce, Frank Sinatra, J. Edgar Hoover fazem algumas aparições ao longo da trama, mas é Nick que nos guia no Submundo americano. Nick trava uma luta constante com o próprio passado enquanto lida com a infidelidade da esposa Marian e do seu (único) amigo Brian. Submundo é uma história sobre o interior humano comprometido consigo mesmo e com um mundo que o transcende arbitrária e completamente. Por outras palavras, é uma obra prima da literatura americana.
“Às vezes vejo coisas tão comoventes que sei que não devo demorar a contemplá-las. É ver e partir. Se ficamos demasiado tempo, exaurimos a comoção sem palavras. Sentir o frémito da paixão, confiar no que assim nos toca e partir.”
Submundo é um retrato considerado fiel dos Estados Unidos do final do século XX, onde se intercalam várias realidades que compõem, no seu todo, o interior de uma nação, a nossa inconsciência acerca da realidade e a nostalgia que é estar vivo. É um romance rico em perspetivas que nos convocam e embalam ao longo das mais de oitocentas páginas que me fizeram render, por completo, a DeLillo.
“E eis ali outra coisa que ambos partilhavam, a amargura e a clareza do tempo, a música a chorar o tempo perdido – a maneira como o som, as vibrações moduladas produzidas por martelos a percutir cordas metálicas os faziam sentir a ambos uma estranha mágoa, não por este ou aquele objeto ou pessoa, antes pelo tempo em si, a impressão material de um ano ou de uma época, as texturas do tempo sem medida que se tinham perdido para eles, e ela desviou o rosto, olhando para além da mão erguida, para uma qualquer coisa transparente que, pensou ele, talvez fosse a sua existência.”
Rock & Rolla