Contra a Falácia dos “Guardiões da Justiça Social”, por Douglas Murray

justice warriors

“Os defensores da justiça social e das políticas de identidade e interseccionalidade sugerem que vivemos em sociedades racistas, homofóbicas e transfóbicas. Sugerem que estas opressões estão interligadas e que, se pudermos aprender a ver através desta teia e a desenredá-la, podemos finalmente desligar as opressões interligadas do nosso tempo.

Levantar a questão dos flagelos das mulheres, gays, pessoas de diferentes origens raciais e trans tornou-se não só uma forma de demonstrar compaixão, mas a demonstração de uma forma de moralidade. É assim que se pratica a nova religião. “Lutar” por estas questões e exaltar a sua causa tornou-se uma forma de se mostrar que é boa pessoa.

A metafísica que uma nova geração está a embeber e todas as outras pessoas estão a ser forçadas a ingerir tem muitos pontos de instabilidade, está enraizada num desejo de exprimir certeza acerca de coisas que não sabemos e menospreza e relativiza as coisas que, de facto, sabemos. Os princípios são que toda a gente pode tornar-se gay, as mulheres são melhores do que os homens, as pessoas podem tornar-se brancas mas não negras e toda a gente pode mudar de sexo. Que toda a gente que não alinhe nisto é um opressor. E que absolutamente tudo deve ser tornado político.

Há aqui suficientes contradições e confusões para durarem uma vida. Não só em certos pontos, mas desde os seus princípios mais fundamentais. Que poderão fazer os homens ou mulheres, gays ou heterossexuais, com as afirmações daqueles que querem atribuir às crianças géneros diferentes dos que lhes foram atribuídos ao nascer? Porque é que uma jovem com características de maria-rapaz deve ser vista como uma transexual preparada para a operação? Porque é que um rapazinho que gosta de ser vestir de princesa tem que ser um transexual em potência? Estimou-se que cerca de 80 por cento das crianças diagnosticadas com aquilo que agora se chama disforia de género verão este problema naturalmente resolvido na puberdade. Ou seja, acabarão por se sentir à vontade com o sexo biológico com que foram identificadas à nascença. A maioria destas crianças tornar-se-ão gays ou lésbicas em adultas.

Como se deverão sentir os homens e mulheres gays em relação ao facto de, décadas depois de eles conseguirem ser aceites como são, uma nova geração de crianças que teriam crescido para serem gays ou lésbicas estarem a ser convencidas de que os seus traços masculinos as tornam homens? E o que é que as mulheres devem pensar disso? Depois de anos a estabelecerem quais eram os seus direitos enquanto mulheres, serem as pessoas nascidas homens a dizer-lhes quais eram os seus direitos – incluindo o seu direito de falar?

Nada no movimento interseccional da justiça social sugere que esteja mesmo interessado em resolver qualquer dos problemas por que afirma interessar-se. A primeira pista reside na descrição parcial, enviesada, não representativa e injusta das nossas sociedades. Poucas pessoas pensam que um país não pode ser melhorado, mas apresenta-lo cheio de intolerância, ódio e opressão é, no mínimo, um prisma parcial e no máximo francamente hostil através do qual ver a nossa sociedade.

Em vez de demonstrar um excesso de opressão nas nossas sociedades, a abundância dessas queixas pode, na verdade, revelar uma grande falta dela. Se as pessoas fossem assim tão oprimidas, teriam tempo ou inclinação para ouvir cada um que precisa de publicar que uma palestra de um romancista num festival literário o incomodou, ou que era intolerável comprar um burrito a alguém da etnia errada?

A vitimização, em vez do estoicismo ou heroísmo tornou-se algo avidamente publicitado, mesmo procurado, na nossa cultura. Ser uma vítima é, de certa forma, ter vencido, ou pelo menos ter um avanço à partida na grande corrida da opressão da vida. Na raiz deste curioso desenvolvimento está um dos mais importantes e errados julgamentos dos movimentos da justiça social: que as pessoas oprimidas (ou que afirmam ser oprimidas) são, de certa forma, melhores do que os outros, que existe alguma decência, pureza ou bondade que deriva de fazer parte desse grupo. De facto, isso por si só não torna uma pessoa melhor. Uma pessoa gay, mulher, negra ou trans pode ser tão desonesta, enganosa e malcriada como qualquer outra.”

 

Douglas Murray in “A Insanidade das Massas, 2019