Rainer Maria Rilke: O que é o Amor?

Rainer Maria Rilke: O que é o Amor?

Sobre o Feminismo:

“As mulheres, em quem a vida permanece e se detém mais de imediato, com mais fruto e mais confiança, tornaram-se sem dúvida as pessoas fundamentalmente mais maduras, mais humanas do que o homem descontraído, que é puxado abaixo da superfície da vida pelo peso do fruto do seu corpo e, que, presumido e apressado, subestima o que pensa que ama.

Esta humanidade da mulher nascida do sofrimento e da humilhação, verá a luz do dia quando se libertar das convenções meramente femininas na mudança da sua condição, e os homens que não a sentem ainda chegar serão surpreendidos e abalados por ela.

Este processo irá mudar a experiência do amor, agora tão cheia de enganos, irá mudá-la de cima abaixo, e transformá-la numa relação destinada a ser de um ser humano com outro, e não mais de homem e mulher. E este amor mais humano (que se realizará infinitamente gentil e atencioso e generoso e claro em unir e libertar) será semelhante àquele que nós preparamos, com luta e esforço, o amor consiste nisto: dois seres sós que se protegem, se encontram e se respiram um ao outro.”

 

Sobre a Solidão:

“E falando novamente de solidão, torna-se sempre claro que no fundo não se trata de algo que possamos querer ou não. Nós somos solitários. Podemos iludir-nos e agir como se isto não fosse verdade. E é tudo.”

 

Sobre o Amor:

“Temos de assumir a nossa existência o mais amplamente possível: tudo, até mesmo o impensável, tem de ser possível. No fundo é esta a única coragem que nos é pedida; ter coragem para o mais estranho, o mais singular e o mais inexplicável que possamos encontrar.

Pois não é apenas a inércia a responsável pela repetição nas relações humanas, indescritivelmente monótonas e iguais; é a timidez perante qualquer tipo de experiência nova e imprevisível com a qual não nos sentimos capazes de lidar. Mas só alguém que está pronto para tudo, que não exclui nada, nem mesmo a coisa mais enigmática, viverá a relação com o outro como algo vivo e sairá ele próprio da sua existência.

Aquilo que é fundamental é o encontro entre dois seres. Um encontro infinito entre dois seres. A isso se chama o amor. O que é o amor senão o encontro entre duas solidões?”

 

Rainer Maria Rilke, in “Cartas a um Jovem Poeta”, 1929