” – Eu falo por mim. Conheço os outros na medida em que limitam as minhas actividades. O mundo também gira à volta de cada um deles e cada um em si mesmo é o centro do universo. O meu direito sobre eles só vai até onde o meu poder alcança. O que sou capaz de fazer é o único limite do que posso fazer. Mas está convencido que as pessoas fazem alguma coisa que não seja por motivos egoístas?
– Sim.
– É impossível que o façam. Vai perceber à medida que for ficando mais velho que a primeira coisa indispensável para que o mundo seja um sítio suportável para viver é reconhecer a inevitabilidade do egoísmo do ser humano. Exige a generosidade dos outros, mas é absurdo exigir que os outros sacrifiquem os seus desejos em benefício dos seus. Porque deveriam? Quando se convencer que cada um está sozinho no mundo pedirá menos aos seus semelhantes. Eles não irão desiludi-lo e olhará para eles de maneira mais caridosa. O ser humano procura uma só coisa na vida: o seu próprio prazer. (…) Não estaria tão assustado se eu tivesse falado em felicidade em vez de prazer. Parece menos chocante e a mente viaja da pocilga para o jardim de epicuro. Mas se fosse possível que o homem preferisse a dor ao prazer a raça humana há muito estaria extinta.”
Somerset Maugham, in “Servidão Humana” (1915)