Não venhas cá com merdas. Não inventes.
Não olhes para os meus olhos. Sai apenas.
E poupa-me aos discursos eloquentes
e às farsas do adeus. Não faças cenas.
Não digas que lamentas ou que a vida
às vezes é assim: que tudo esquece;
que o mundo e o tempo curam qualquer ferida.
Repito, meu amor: desaparece.
E leva o que quiseres de tudo quanto
um dia suspeitámos partilhar:
os livros, as esculturas em pau-santo,
os discos, os retratos, o bilhar.
Não deixes endereços. Por favor:
eu quero é que te fodas, meu amor.
José Carlos Barros, in O Uso dos Venenos, ed. Língua Morta