As Vagas Feministas, por Douglas Murray

As Vagas Feministas, por Douglas Murray

“A primeira vaga de feminismo foi a que começou no século XVIII e continuou, segundo algumas opiniões, até aos anos 1960. De Mary Wollstonecraft até à Campanha pelo Sufrágio Feminino, as reivindicações da vaga feminista foram definidas pela exigência de direitos legais iguais. Não direitos diferentes, mas direitos iguais. O direito de voto, obviamente. Mas também o direito de pedir o divórcio, de guarda das crianças e de igualdade na herança. A luta por estes direitos foi longa, mas concretizada.

A onda de feminismo que começou nos anos de 1960 concentrou-se nas prioridades que continuavam por resolver sob estes direitos básicos. Questões como os direitos das mulheres de terem as carreiras que desejavam e de serem apoiadas nesses objetivos. Estas feministas defendiam os direitos reprodutivos em torno da contraceção e do aborto, a segurança das mulheres dentro e fora do casamento. O objetivo destas feministas era ajudar a pôr as mulheres em posição de terem oportunidades de vida e carreira comparáveis às dos homens.

Com as maiores batalhas pela igualdade atrás das costas, podia esperar-se que as feministas se dedicassem aos problemas que restavam e que o facto de as coisas nunca terem estado melhores levasse a que o tom da sua retórica se adequasse a essa realidade. No entanto, não foi isso que aconteceu. Se alguma coisa ganhou vapor e descarrilou logo depois de ter parado numa estação, foi o feminismo ao longo das últimas décadas. A partir dos anos de 1970 um novo discurso incrustou-se nos campos feministas, com vários temas distintivos, entre eles:

A guerra não declarada contra as mulheres em praticamente todos os elementos da vida nas sociedades ocidentais.

French, Faludi e outros tiveram imenso sucesso a transmitir esta ideia. Também estabeleceram um padrão, o de que o sucesso dos argumentos feministas começou a depender de as afirmações serem distorcidas e exageradas. Gradualmente, as reivindicações mais extremas tornaram-se norma.

Outra coisa que foi embebida neste estágio do feminismo foi uma forma de misandria – ódio aos homens.

A quarta vaga do feminismo é, basicamente, a terceira vaga do feminismo, mas com apps. Dizer “Matem Todos os Homens” podia ser uma forma excessivamente zelosa de apelar ao sufrágio feminino numa altura em que as mulheres não tinham direito de voto. As feministas da primeira vaga que fizessem campanha pela igualdade dizendo “Matem Todos os Homens” teriam tido dificuldade em pôr as pessoas do seu lado. Mas um século mais tarde parece ter-se tornado normal e até mesmo aceitável que mulheres nascidas com todos os direitos por que as suas antepassadas tinham lutado reagissem com linguagem mais violenta do que a que fora usada quando o que estava em jogo era infinitamente mais.

Esta campanha também não se limita aos hashtags do Twitter. Ao longo da última década vimos a entrada na discussão pública quotidiana de uma série de slogans como “privilégio masculino”. Tal como a maioria dos slogans, é fácil de repetir mas difícil de explicar. Por exemplo, pode dizer-se que a preponderância de homens na posição de CEO é um exemplo de “privilégio masculino”. Mas ninguém sabe o que pode significar a preponderância de suicídios masculinos, mortes em ocupações perigosas, situações de sem-abrigo e muito mais.

Depois há o conceito de “patriarcado”, a ideia de que as pessoas (sobretudo nos países capitalistas ocidentais) vivem numa sociedade manipulada a favor dos homens e com o objetivo de suprimir as mulheres e as suas capacidades. Este conceito tornou-se tão incrustado que quando é mencionado flui como se a ideia de as modernas sociedades ocidentais se centrar em volta – e ser organizada apenas para o conforto – dos homens não fosse sequer algo que a maioria das pessoas se incomodasse a discutir.

O pior entre o léxico dos slogans anti-homem é o da “masculinidade tóxica”. Tal como várias outras, a expressão teve início nas franjas mais remotas da academia e das redes sociais. Porém, em 2018 já se introduzira no centro de organizações sérias e organismos públicos. Também não há uma reflexão antes de o conceito de “masculinidade tóxica” se incrustar sobre como pode funcionar.

Claro que se existem traços tóxicos na masculinidade, o mais provável é que estejam tão entranhados (ou seja, que existem em todas as culturas independentemente das diferenças situacionais) que não sejam erradicáveis. Ou talvez haja aspetos específicos do comportamento masculino que, em determinados momentos e lugares, sejam indesejáveis. Se assim for, então haverá quase de certeza maneiras específicas de lidar com o problema. Em qualquer dos casos, inventar conceitos como “privilégio masculino”, “patriarcado”, “mansplaining” ou “masculinidade tóxica” não vai ajudar a resolver o problema.

A explicação mais óbvia a partir de qualquer análise exterior é que parece haver uma ação que tem mais por objetivo neutralizar os homens do que melhorá-los, retirando-lhes toda e qualquer virtude e transformando-os em objetos de piedade sem confiança em si mesmos e desprezando-se. Parece, numa palavra, vingança.

E porque haveria de ser assim? Porque é que a guerra e a retórica se tornaram tão renhidas quando os padrões de igualdade melhoraram tanto? É porque o que está em jogo é pouco importante? Porque as pessoas estão entediadas e querem assumir uma postura heroica pelo meio de uma vida de relativa segurança e controlo? Ou a questão é simplesmente que as redes sociais – o desafio de falar sozinho ou possivelmente para todo o planeta – estão a impossibilitar qualquer discussão honesta?

A probabilidade de reprogramar os instintos naturais de todos os homens e todas as mulheres é remota. Durante três anos, entre 2014 e 2017, académicos do Reino Unido desenvolveram um estudo acerca das imagens masculinas que as mulheres acham atraentes. Os resultados, publicados em Feminist Media Studies, revelaram uma tendência perturbadora. A Newsweek resumiu as descobertas chocantes num título: “Homens com dinheiro e músculos são maia atraentes para as mulheres heterossexuais e para os homens gay – mostrando que os papéis de género não estão a progredir.” De facto. O “progresso” só será atingido quando as mulheres acharem atraentes os homens que não acham atraentes. Que dificuldade haverá em atingir isso?”

 

[Douglas Murray in “A Insanidade das Massas, 2019]

 

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