“A Conquista da Felicidade” de Bertrand Russell

“A Conquista da Felicidade” de Bertrand Russell

Bertrand Russell, o proeminente filósofo (matemático, ensaísta, historiador e lógico) britânico, escreveu, em 1930, um pequeno livrinho a que deu o nome: “A Conquista da Felicidade”. Nele expôs as principais causas tanto da infelicidade como da felicidade.

O filósofo adverte à partida que todas as ideias que defendidas ao longo da narrativa foram confirmadas pela própria experiência e aumentaram a felicidade, ou diminuíram a infelicidade, sempre que agiu de acordo com elas.

Russell começa por atribuir a vulgar infelicidade do dia-a-dia a três causas magnânimas:

  • Éticas erradas
  • Hábitos de vida errados
  • Ideias erradas sobre o mundo

A partir daqui entra numa demanda sobre as mais relevantes características humanas que proporcionam ou retiraram felicidade a qualquer um de nós.

Como causa de uma infelicidade perpétua o filósofo coloca os egocentrismos de várias espécies no cume da lista e identifica os seus protagonistas como “o pecador”, “o narcisista” e “o megalómano”.

Segundo Russell, nenhum destes tipos de personalidade, sobre os quais discorre ao pormenor, concebe a comprovada máxima que decreta que “privarmo-nos de algumas coisas de que precisamos é parte indispensável da felicidade”.

Após uma acérrima defesa do amor como fonte de prazer, tece uma crítica à sociedade moderna onde constata que houve uma degeneração das ideias de Deus, de Homem e de Natureza que levaram a uma transmutação (cada vez mais evidente!) dos princípios e valores pelos quais as sociedades ocidentais se regem.

Entre esses encontra-se “a luta pela vida” que o filósofo acusa de se ter transformado em “luta pelo êxito”. Segundo Russell, o século XX tornou a existência uma luta onde o espírito da competição é a principal razão de vida.

A par deste fenómeno, o medo do aborrecimento, esse “grande culpado de metade dos pecados da humanidade”, ganha espaço e protagoniza uma cada vez maior fuga ao tédio. Acontece que, para o filósofo, “algumas coisas boas não são possíveis sem um certo grau de monotonia.”

Ao assumir que o aborrecimento é fecundo, Russell enaltece os prazeres simples que deixaram de ser apreciados como a literatura, a pintura e a música e assume que estes canalizavam o espírito para as coisas belas e imateriais, o que deixou de acontecer a favor da famosa “luta pelo êxito”.

Para o filósofo, o declínio da cultura, a falta de contacto com a Terra e a fadiga nervosa que caracterizam o século XX são causas de infelicidade que aumentarão exponencialmente nos próximos tempos, ou seja – nós somos, hoje, o seu produto.

Percorrendo ainda outras vias de análise ao senso comum da infelicidade, Russell identifica a inveja como “a mais lamentável de todas as características vulgares na natureza humana” e “o hábito fatal de se pensar em termos de comparação” como um dos mais eficazes promotores desse estado de espírito.

O sentimento de culpa e a mania da perseguição adquirem o estatuto de infrutíferos no alcance de qualquer tipo de felicidade, sendo, pelo contrário, altamente eficazes no extrapolar do sentimento de inferioridade, porque:

“Ninguém deve imaginar que é perfeito e ninguém deve também ficar perturbado pelo facto de não o ser.”

Quanto ao medo da opinião pública, o filósofo assume que a indiferença perante tal facto é uma causa de felicidade.

No seu encalço expõe pormenorizadamente aquelas que acha serem as principais causas desse tão raro fenómeno: o gosto de viver, a família, a afeição, certas características que o trabalho pode ter e os interesses impessoais.

Um bom livro para nos trazer de volta à Terra neste espaço sideral em que, quase todos, existimos hoje.

 

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